Com mural de 42m², artista Mury celebra a força da arte urbana em Goiânia

Novo painel de grafite no Negrão de Lima leva cor, cultura e memória ao bairro
A artista multilinguagem Jessica Muriel, conhecida como Mury, acaba de finalizar a obra mais ambiciosa de sua trajetória: um mural de 42 metros quadrados na Rua Maria Alice, no bairro Negrão de Lima, em Goiânia – local que abriga uma tradicional feira semanal às quintas-feiras. A obra foi contemplada pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) e contou com orientação artística e apoio na captação de recursos do músico, produtor e doutor em História pela UnB, Eduardo Kolody.
Com uma carreira que transita pelas artes cênicas, o circo e as artes visuais, Mury tem se dedicado nos últimos anos ao grafite e ao muralismo, com especial interesse na temática da ancestralidade indígena. Em suas obras, é possível encontrar a fusão de grafismos e figuras de povos originários com elementos da fauna e flora do cerrado. Este novo mural não foge à regra: traz também representações do lobo-guará, do pequi e do caju, em tons naturais que dialogam com a paisagem e a memória cultural da região.
“Cada personagem foi pensado de forma única dentro de uma paleta específica de cores que eu defini para o projeto. A ideia era dar vida a cada figura com um fundo que refletisse a sua identidade e, ao mesmo tempo, proporcionar uma sensação de profundidade – quase como se as figuras estivessem saindo da parede”, explica a artista.
O trabalho, que mescla pintura acrílica e spray, foi realizado sob condições desafiadoras: calor intenso, chuvas e até uma insolação no processo. “Este é o mural mais ambicioso que já fiz, tanto pela sua proporção quanto pela carga simbólica. Mas, ao ver o mural pronto, percebo que todo o sacrifício valeu a pena”, comenta Mury, com um sorriso de satisfação.
Mais do que uma obra de arte urbana, o mural contribui para embelezar o bairro, valorizar a cultura local e quebrar preconceitos em torno do grafite, prática ainda vista com desconfiança por parte da sociedade.
“Existe um preconceito muito grande com o grafite. Às vezes, quando um artista está pintando, a primeira reação das pessoas é achar que aquilo é um caso de polícia. Precisamos educar a sociedade”, afirma Eduardo Kolody.
Além de transformar a paisagem urbana, o mural também tem um papel educativo ao sensibilizar a comunidade para a arte, a ancestralidade e a biodiversidade do cerrado.