Dormir mais não é dormir melhor: entenda por que sono diurno não compensa o noturno

Médico explica por que descansar durante o dia não substitui o sono de qualidade à noite — e como isso pode estar afetando sua saúde física e mental
Para indivíduos que despertam com sensação de cansaço, mesmo após várias horas de sono, ou que recorrem a cochilos ao longo do dia na tentativa de restaurar os níveis de energia, mas permanecem exaustos, a explicação pode estar menos relacionada à quantidade de sono e mais à sua qualidade e ao momento em que ele ocorre. Segundo o médico intensivista e nutrólogo Dr. José Israel Sanchez Robles, é frequente observar pacientes que buscam compensar a privação de sono noturno com períodos de descanso diurnos, contudo, sem obter benefícios reais. Isso ocorre porque o sono fora do ritmo circadiano habitual tende a ser menos eficiente em promover recuperação física e mental adequadas.
“Embora o organismo possua certa capacidade adaptativa, o sono diurno não representa um substituto fisiológico equivalente ao sono noturno, uma vez que não respeita os mecanismos neuroendócrinos e a arquitetura natural do ciclo circadiano”, explica o especialista. Durante a noite, nosso organismo segue o ritmo circadiano — o relógio biológico interno que regula a produção de melatonina e a alternância entre vigília e repouso.
É nesse período que ocorrem as fases mais profundas do sono, como o sono REM e o estágio N3, essenciais para uma série de funções vitais: regeneração neurológica, consolidação da memória, equilíbrio emocional, regulação do apetite e fortalecimento do sistema imunológico. “O sono noturno desempenha um papel insubstituível na manutenção da saúde física e mental, por estar alinhado ao ciclo circadiano e à liberação fisiológica de hormônios como a melatonina e o cortisol. O sono diurno, por sua vez, é uma medida compensatória limitada, comparável a tentar carregar um dispositivo com a bateria comprometida: pode fornecer uma reposição parcial da função, mas não corrige o déficit funcional gerado pela privação do sono noturno”, alerta o médico.
Além disso, cochilos frequentes e prolongados durante o dia tendem a ser mais superficiais, fragmentados e menos restauradores. Pior: podem intensificar quadros de insônia noturna, alimentando um ciclo disfuncional. “Diante de um padrão inadequado de sono noturno, é fundamental investigar as causas subjacentes — como distúrbios do sono, fatores ambientais ou comportamentais — em vez de limitar-se a abordagens sintomáticas, como a adoção de cochilos diurnos, que não resolvem o problema de base”, completa José Israel.
Entre os fatores mais comuns que prejudicam o sono noturno estão a má higiene do sono, o estresse crônico, distúrbios como apneia, síndrome das pernas inquietas ou insônia primária, além de hábitos alimentares inadequados. Embora cochilos curtos — de 20 a 30 minutos após o almoço — possam ser úteis para restaurar parte da energia, eles nunca devem substituir uma noite bem dormida.
“O sono constitui um dos pilares fundamentais da saúde metabólica, emocional e cognitiva. Assim, para alcançar maior capacidade de concentração, níveis adequados de energia e sensação de bem-estar, a primeira intervenção deve ocorrer na higiene do sono — com ênfase no repouso noturno. Dormir com qualidade, durante a noite, respeitando os ritmos biológicos naturais, é uma estratégia terapêutica de impacto comprovado”, reforça o nutrólogo, completando que, em casos em que isso não seja possível, é preciso procurar ajuda profissional para que as causas do problema sejam resolvidas.