Psiquiatra só trata “louco”? Veja como ele pode cuidar de qualquer pessoa

Psiquiatra só trata “louco”? Veja como ele pode cuidar de qualquer pessoa
Foto: Divulgação

Se tem algo que ainda resiste mesmo com os avanços da medicina, é o estigma em torno da psiquiatria. Ainda hoje, não são raras as vezes em que alguém se recusa a procurar um psiquiatra por acreditar que esse tipo de médico seria exclusivo para “casos graves” ou, como ainda se diz, “coisa de doido”. A realidade, no entanto, é bem diferente — e o papel do psiquiatra nunca foi tão necessário como nos tempos atuais.

A celebração do Dia do Psiquiatra, em 13 de agosto, reforça a importância dessa especialidade médica. A data marca a criação da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mas serve, sobretudo, como momento de conscientização sobre o valor do cuidado com a saúde mental — algo cada vez mais vital para a qualidade de vida da população.

Silvana Ferreira, médica psiquiatra e docente do Idomed, lembra que o psiquiatra é graduado em medicina como todos os outros especialistas, mas com formação específica para lidar com transtornos mentais e comportamentais que afetam milhões de pessoas. "Ansiedade, fobias, depressão, insônia, compulsões, burnout, dependência química, entre outras, são condições tratadas pela Psiquiatria”, afirma. Ressalta ainda que a ideia que associa o cuidado psiquiátrico apenas com a “loucura” vem do estigma que acompanha o adoecer psíquico e a própria especialidade.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada oito pessoas no mundo convive com transtornos mentais. No Brasil, os números são ainda mais altos: o país é que tem a maior prevalência de ansiedade no mundo e um dos primeiros em depressão na América Latina. Ainda assim, mais de 50% dos brasileiros com sintomas não procuram nenhum tipo de ajuda médica. Parte disso se deve ao preconceito, mas também à desinformação sobre o que, de fato, faz um psiquiatra.

Além do atendimento em consultórios e clínicas, esses profissionais atuam em hospitais, unidades de pronto atendimento (UPAs), serviços de saúde pública, equipes multiprofissionais, perícias médicas, centros de reabilitação e até tribunais. Também são fundamentais na elaboração de laudos médicos, pareceres técnicos, políticas públicas e diagnósticos em situações emergenciais.

“O psiquiatra não é um médico do fim da linha. Ele é, muitas vezes, a primeira porta que deveria ser procurada. Em momentos de sobrecarga emocional, traumas ou crises familiares, o tratamento correto pode evitar agravamentos sérios. E o diagnóstico precoce, assim como em outras especialidades médicas, faz toda a diferença”, completa a professora Silvana.

Em 2025, o Brasil ainda possui uma das menores proporções de psiquiatras por habitante entre os países da OCDE: são apenas 6,69 médicos especializados para cada 100 mil habitantes, segundo o INPD. O índice está abaixo da média latino-americana e revela a urgência de valorização da psiquiatria tanto na formação médica quanto na percepção social.

Como mudar essa realidade?
Para reverter esse cenário, dra. Silvana afirma que é importante ter ações combinadas: ampliar a informação de qualidade sobre saúde mental, inserir debates sobre transtornos psíquicos desde a educação básica e facilitar o acesso a atendimento especializado, inclusive no SUS. “A aproximação do psiquiatra com a atenção primária e o uso de telemedicina também podem diminuir barreiras geográficas e reduzir o tempo de espera por consultas”, complementa.

Outro ponto central é combater ativamente o estigma. Campanhas públicas que mostrem casos reais de recuperação, aliadas ao incentivo para que figuras públicas falem abertamente sobre tratamento, ajudam a normalizar o cuidado psiquiátrico. “Quando a população entende que procurar um psiquiatra não é um sinal de fraqueza, mas de cuidado consigo, conseguimos fazer diagnósticos mais cedo e oferecer tratamentos mais eficazes, muitas vezes evitando a cronificação da doença”, finaliza Silvana.