Sumir para causar saudade funciona ou desgasta? A linha tênue entre estratégia e sabotagem emocional

No jogo sutil das relações afetivas, especialmente nos tempos modernos, uma "estratégia" bastante comum é o famoso "subir para causar saudade". A lógica por trás desse comportamento é simples: ao se ausentar, a outra pessoa sentirá sua falta e, ao perceber esse vazio, valorizará mais a sua presença. Mas será que essa tática realmente funciona? Ou será que, com o tempo, ela acaba minando a confiança, gerando desgaste e esfriando os sentimentos?
Vamos refletir sobre os impactos reais desse comportamento nas relações amorosas.
A lógica por trás do sumiço: provocar o outro ou proteger-se?
Muitas vezes, quem opta por desaparecer temporariamente não o faz por maldade, mas por insegurança, medo da rejeição ou necessidade de preservar a própria autoestima. Há uma tentativa de inverter o jogo: "Se eu sumir, a pessoa vai perceber o quanto gosta de mim". É uma tentativa de validar o próprio valor através da reação do outro. Só que esse movimento tem riscos altos.
O problema começa quando a ausência vira uma tentativa de manipulação emocional. Ao sumir, você não está dando espaço saudável, mas apostando em um sentimento de perda para gerar reaproximação. Isso pode até funcionar no curto prazo, principalmente em relações recentes, onde o mistério ainda instiga. Mas em laços mais profundos, o efeito tende a ser o oposto: desconexão, confusão e até ressentimento.
O outro lado da moeda: o desgaste emocional
Relacionamentos saudáveis se constroem com presença, diálogo e consistência. Quando uma das partes desaparece de forma intencional e sem explicações claras, a confiança começa a rachar. A pessoa deixada de lado pode se sentir desvalorizada, ignorada ou até punida por algo que não sabe o que foi. E, com o tempo, essa ausência calculada pode ser interpretada como imaturidade ou desinteresse.
A saudade, quando surge de maneira natural, pode sim fortalecer laços. Mas quando é forçada por sumiços estratégicos, o efeito tende a ser o oposto. Em vez de fazer o outro correr atrás, a tendência é ele se afastar para se proteger.
Muitos especialistas em psicologia afirmam que a base de um vínculo verdadeiro é a segurança emocional. E isso só se constrói com constância. Usar o silêncio como forma de provocar sentimentos pode gerar ciclos de instabilidade — e isso cansa.
Quando o silêncio fala mais sobre quem somos
Sumir para causar saudade pode também revelar mais sobre quem adota essa atitude do que sobre o relacionamento em si. Pessoas com medo da vulnerabilidade podem preferir o sumiço a dizer "estou com saudade", "senti sua falta" ou "estou confuso com o que sinto". É uma forma de se proteger da rejeição, jogando a responsabilidade sobre o outro.
No entanto, a maturidade emocional se expressa na coragem de se comunicar com clareza. Dizer o que se sente, mesmo correndo o risco de não ser correspondido, é um ato de força. Quem usa o sumiço como forma de manter o controle, na verdade está preso a um medo profundo de não ser suficiente.
O efeito rebote: quando o outro também aprende a se ausentar
Um dos maiores riscos de usar o desaparecimento como tática é que o outro pode aprender a fazer o mesmo. A relação entra num ciclo de "quem sente mais falta" ou "quem vai correr atrás primeiro". E, nesse jogo de forças, o afeto vai se perdendo.
Além disso, quando o parceiro ou parceira percebe que está sendo manipulado emocionalmente, pode surgir um bloqueio afetivo. O que antes era uma tentativa de provocar saudade pode se transformar em distanciamento real — e definitivo.
Espaço é diferente de ausência estratégica
É importante entender que dar espaço no relacionamento é algo saudável e necessário. Cada pessoa precisa ter sua individualidade preservada, seus momentos a sós, suas rotinas próprias. Mas isso é diferente de sumir com a intenção de provocar uma reação.
Dar espaço significa respeitar o tempo do outro, não sufocar, permitir que cada um mantenha sua autonomia. Já desaparecer como forma de "testar sentimentos" é agir com base na insegurança e não na confiança.
Afinal, funciona ou desgasta?
A resposta depende da intenção e da frequência. Se for um afastamento natural, motivado por questões pessoais ou pela necessidade de respiro, pode até fortalecer a conexão — desde que haja honestidade. Mas se o sumiço for intencional, usado como tática para manipular, ele desgasta, fere e corrói a base da relação.
A saudade é um sentimento nobre quando nasce espontaneamente. Quando é forçada, vira armadilha. gpgbh
Conclusão: melhor presença sincera do que ausência estratégica
No fim das contas, o que mais cativa em um relacionamento é a autenticidade. Estar presente, mesmo que em silêncio, mas com clareza de intenções, vale mais do que qualquer joguinho emocional. O verdadeiro valor de uma conexão está na segurança de saber que o outro está ali porque quer, não porque foi provocado a sentir saudade.
Sumir para ser lembrado pode funcionar uma vez. Mas, com o tempo, o risco é ser esquecido.
Fonte: Izabelly Mendes.